Por Dra. Jaqueline Oliveira Rosa
O papilomavírus humano (HPV) pertence a um grupo de vírus de DNA, que infecta a pele e mucosas de vários locais do corpo humano. Pertencente à família Papillomaviridae, é um vírus não envelopado, de fita dupla circular com 7.900 pares de base.
Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, dos quais 40 podem infectar o trato genital. Destes, 14 são tipos identificados como de alto risco oncogênico (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 66 e 68) que têm probabilidade maior de persistir e estarem associados a lesões pré-cancerígenas. Os de tipos 16 e 18 causam a maioria dos casos de câncer de colo do útero em todo mundo (cerca de 70%). Já os subtipos 11 e 6 são considerados de baixo risco e são responsáveis pelo surgimento de verrugas genitais não relacionadas à malignidade.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre as mulheres. Foram estimados 17.010 casos novos para o ano de 2023, o que representa um risco considerado de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres. Em 2020, mais de meio milhão de mulheres tiveram câncer do colo do útero e cerca de 342 mil morreram em consequência, sendo a maioria em países mais pobres.
A infecção pelo HPV pode ser dividida em três formas distintas: clínica, subclínica e latente. A infecção clínica é facilmente detectada à vista, como uma verruga. A forma subclínica é a mais frequente no colo do útero, correspondendo a 80% dos casos. A forma latente é identificada apenas através dos exames de biologia molecular. Diante disso, o rastreio rápido e preciso são medidas essenciais para o tratamento do câncer e para evitar mortes.
A estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a eliminação do câncer de colo do útero pede que 70% das mulheres em todo o mundo sejam examinadas regularmente para doenças cervicais com um teste de alto desempenho e que 90% delas recebam tratamento adequado, além da vacinação de meninas. A implementação dessa estratégia global poderia prevenir mais de 62 milhões de mortes por câncer do colo do útero nos próximos 100 anos. Essa nova orientação inclui algumas mudanças importantes nas abordagens recomendadas para o rastreio de câncer do colo do útero. Em particular, é recomendado um teste de HPV baseado em DNA como o método preferido, em vez de inspeção visual com ácido acético ou citologia (Papanicolau), atualmente os métodos mais comumente usados mundialmente para detectar lesões pré-cancerosas. A OMS recomenda a autocoleta para o HPV como um meio essencial para melhorar a triagem do câncer cervical (Orientação da OMS sobre intervenções de autocuidado para saúde e bem-estar, 2021).
Papanicolau x HPV - DNA por PCR
No Brasil, a estratégia utilizada para rastreamento de câncer de colo do útero é a colpocitologia (papanicolau), a qual tem sensibilidade limitada à interpretação do profissional, uma vez que detecta células alteradas pelo HPV, havendo mais chances de erro. A técnica consiste na avaliação morfológica das células de esfregaços obtidos do colo uterino por inspeção visual. Já a técnica molecular, HPV baseado em DNA por PCR é um diagnóstico objetivo e mais sensível porque consegue detectar a presença do vírus mesmo sem lesão aparente e nos casos em que a carga viral é baixa, podendo ser uma estratégia para lugares onde a realização da colpocitologia não é possível.
Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprovou a eficácia do teste de HPV baseado em DNA, comparando com o exame de Papanicolau, o qual identifica células já doentes. A detecção do câncer nas mulheres que fizeram o teste de HPV DNA foi antecipada em dez anos, ainda em estágios iniciais. Além disso, o teste de HPV DNA é mais simples, previne mais pré-cânceres e cânceres e salva mais vidas do que a inspeção visual ou a citologia e mais custo-efetivo.
Autocoleta HPV
A técnica do Papanicolau apresenta obstáculos que dificultam e até impossibilitam a adesão das mulheres ao diagnóstico, como o constrangimento de procedimentos invasivos de coleta e deslocamento de pacientes que vivem em áreas onde o acesso não é facilitado, além de questões culturais, religiosas e sociais, reduzindo a adesão aos programas de profilaxia. A utilização da autocoleta como rastreio de HPV, associada a testes moleculares, já é uma alternativa para aumentar a cobertura dos programas de rastreamento em diversos países.
Existem vários estudos demonstrando que o teste de HPV DNA por autocoleta é considerado uma importante alternativa na detecção do vírus com sensibilidade e especificidade semelhantes às amostras coletadas por médicos ou profissionais da saúde. Além do mais, vários estudos têm demonstrado a aceitação das mulheres de diferentes regiões e culturas pelo mundo em relação a autocoleta, inclusive tendo preferência por tipos de dispositivos de qualidades superiores e com conforto comprovado, evitando o constrangimento e a exposição aos médicos, aumentando, comprovadamente, a adesão aos programas de rastreio cervical.
A autocoleta é uma abordagem fácil e segura que aumenta a oportunidade de alcançar mulheres que, de alguma forma, não participariam da triagem clínica ou facilitariam o acesso a um teste de triagem (Orientação da OMS sobre intervenções de autocuidado para saúde e bem-estar, 2021). Revisões sistemáticas e metanálises confirmam que a autocoleta é um método altamente aceitável para o rastreamento do câncer do colo do útero em termos de facilidade de uso, conveniência, privacidade e conforto físico e emocional, tanto em países de alta renda quanto baixa e média. Além disso, a precisão diagnóstica comparável também foi confirmada para neoplasia intraepitelial cervical grau dois (NIC 2) de amostras coletadas pelo próprio médico se forem usadas abordagens de amplificação, como a PCR.
A técnica de biologia molecular já é usada pelo laboratório DNA Consult em sua rotina de exames. Nos preocupamos em levar as melhores tecnologias de análises na prevenção e promoção da saúde, por isso desenvolvemos um kit que possibilita a auto coleta para o HPV DNA, em que a paciente recebe todo o material necessário para fazer uma coleta segura e sem medo, incluindo logística, análise por PCR e laudo online. Confira em nosso site www.dnaconsult.com.br.
Sobre a autora
Dra. Jaqueline Oliveira Rosa é formada em biologia com mestrado e doutorado em melhoramento genético. Hoje é responsável pela criação e gestão dos produtos dentro do Grupo DNA.
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